domingo, 24 de maio de 2009

Quantos livros você já leu?

- Nenhum.
- Você nunca leu nenhum livro?!?
- Não.
- Nem os que a professora manda?!?
- Ah, da escola eu já li três.”

Eu trabalho com Oficina de Leitura, e este diálogo é muito comum ter com adolescentes nos primeiros contatos. Sempre me intrigou por que é que eles não levam em conta o livro solicitado pela escola.
Talvez o adolescente esteja considerando o ato da leitura de um livro literário como algo espontâneo, ele vai à estante, pega um livro e lê, sem nenhuma cobrança, sem ninguém mandar. Talvez veja outros adolescentes que façam isso (sim, eles existem!) e vislumbre o misterioso e inatingível mundo da leitura, que muitos falam, mas que ele não faz parte. Então, tem seu lado bom: ele está associando leitura com prazer, embora seja incompreensível para ele como alguém consiga isto.
O lado ruim é que, decididamente, para este adolescente a escola não está cumprindo o papel de introdução a este mundo. É possível inclusive que esteja até afastando-o mais da leitura. Os motivos são muitos: livros inadequados para a faixa etária, de má qualidade, longe do interesse dele como ser em particular, cobranças da leitura, verificações de gramática, discussões ocas, falta de um histórico de leituras anteriores, etc.
Se após a leitura houver uma prova de verificação, já se está encarando o livro como um remédio muito ruim que precisa ser engolido.
A apreciação da obra de arte literária (como de qualquer outra obra) deve ser gratuita. Faz parte da obra interagir com as experiências de cada leitor, transformando-o. Então, obviamente, cada leitura é única. Descobrir estas possibilidades torna o ato de ler muito rico. Se o professor encarar a leitura como algo agradável, falar com entusiasmo sobre o livro, admirar os recursos que determinado autor usou para conquistar o leitor, entender o contexto em que aquela obra foi criada, envolver-se com a história, então fica mais fácil fazer com que o adolescente penetre neste mundo.
Eis um caminho para a escola trilhar.

Tatiana Belinky




Fui ao lançamento do livro 'Quem é que manda", da Tatiana Belinky, na Livraria da Vila. Grande escritora, grande pensadora da literatura infantil...Completou 90 anos de uma vida riquíssima em produção para crianças.


Ela não é uma fofa?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O papel do professor particular

Coluna de abril do Jornal Nirvana:

Achei a época oportuna para falar sobre esta figura tão solicitada somente no final do ano, ou, com sorte, após os resultados das provas bimestrais.
Está claro que o professor particular não faz milagres. Muitos deles se queixam dessa procura tardia, porque sentem que o aluno poderia aprender melhor se tivesse mais tempo e menos pressão. Como colocar alguma coisa na cabeça de uma criança ou adolescente, que já vem sem os conhecimentos anteriores necessários para aquela matéria (e quanta matéria!), muitas vezes com baixa autoestima, preocupado com a prova do dia seguinte, ou até indiferente, camuflando o medo de mais um fracasso? Nestas condições tão adversas, a aula particular até funcionaria se a dúvida fosse pontual, ou se na verdade faltasse apenas organizar ou se sentir mais seguro diante do conhecimento já adquirido da escola.
Mas nem sempre é assim. Muitos alunos se conformam em não entender algumas palavras, não perguntam, não vão ao dicionário. Consideram a matéria algo fora de suas vidas e quanto mais rápido se livrarem dela, melhor. Não sentem que são eles os responsáveis por sua própria aprendizagem. É como se engolissem a matéria, para despejá-la na prova.
No entanto, o que se espera da educação desses novos tempos, onde a informação é fácil e farta, é que ele seja capaz de selecionar o que importa, questionar, fazer ligações com outros assuntos, aplicar na sua vida e produzir novos conhecimentos.
O professor particular é aquele que está ao lado do aluno que, por qualquer motivo, precisa de mais tempo, mais atenção, um tipo de explicação diferente, uma orientação. Não há problema nenhum nisso: cada um tem seu jeito e seu momento de aprender. O verdadeiro educador não quer que o aluno dependa dele, e sim quer que ele aprenda a aprender, para que caminhe com suas próprias pernas. Por isso é importante avaliar o momento adequado de se contratar um auxílio necessário e valioso para uma aprendizagem tranquila. Talvez o momento certo seja agora.