terça-feira, 22 de junho de 2010

O segredo das ervilhas!!!!!!

Na estréia da peça A princesa e a ervilha, aconteceu uma coisa mágica.

A peça atrasou, as pessoas começaram a ficar impacientes, e eu, preocupada: o que estará acontecendo?

Leandro vai ao palco e, de cabeça erguida, explica que o figurino não foi entregue a tempo. No começo, achei que era até brincadeira, alguma coisa que fazia parte do espetáculo. Depois vi que era sério.

- Em respeito ao público – disse ele- vamos fazer a peça. Será como um ensaio aberto.

E convidou as pessoas a voltarem outro dia. A peça começou. No comecinho (nos primeiros 5 segundos), foi estranho. Depois, esqueci. É, esqueci que o figurino não era aquele. Porque os atores fizeram aquela peça com uma dignidade tão grande, com uma força, uma energia que não sei explicar, que a roupa não importava mais.

Quem ousa dizer para uma criança que aquela toalha presa nas costas dela não é a capa do superhomem? Claro que é!

Gostei da estréia. Não acho que fez falta nenhuma o figurino. Mas isso sou eu, suspeitíssima, então fiquei quietinha no meu canto.

Mas resolvi escrever sobre isto porque outras pessoas falaram a mesma coisa. E não precisavam falar para agradar. Falaram porque pensaram, mesmo.

Quando acabou a peça, a rainha se adiantou no palco e disse:

- Isso é fazer teatro!

Lindo. Emocionante. Mais uma lição que ficou pra mim.

Naquela hora, estava todo mundo sentindo a ervilha debaixo do colchão!!!!!!

12º Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil



Como todo ano, o Salão é um verdadeiro parque de diversões para quem gosta de livro!






Rosângela, Edna Bueno, Felipe Vellozo, Sandra Ronca, eu e Sandra Lopes



Sandra Lopes, eu, Silvia Negreiros e Tino, na estande da Manati.











Eu e Carla Pilla

















Estande da Zit
Teresa, sempre animada!









Reunião da Confraria Carioca. Hermes e Caio Ritter contando a experiência em Porto Alegre.







Discussões AEILIJ

segunda-feira, 7 de junho de 2010

12º Salão FNLIJ

Estarei lá!!!!!

domingo, 6 de junho de 2010

O processo criativo da "Princesa e a Ervilha"


Alguns amigos me perguntaram como é a sensação de ver um texto teatral que você escreveu sendo encenado no palco. Para poder explicar bem, vou ter que começar a falar de antes, do tempo em que “A princesa e a Ervilha” era só uma ervilha na minha cabeça, uma coisa me cutucando.
Depois da montagem da minha primeira peça, “Rapunzel do meio da rua”, Carlos Fracho (que foi coautor) me pediu uma peça para que ele montasse como produtor. E de uma história tradicional. A ervilha logo apareceu. Tenho uma coleção dos contos de Andersen, cinco livros lindos, de1961, cheio de histórias instigantes, muitas tristes, outras (como esta), alegres. A coleção era do meu pai, mas eu fiz uma cara tão pidona que ele teve que me dar!



O conto é curtinho, algumas fontes dizem que Andersen recolheu esta história do folclore da Suécia. Não é uma das histórias mais conhecidas, e ela é diferente, segue uma linha narrativa que não é comum, o príncipe não luta pelo amor da princesa, ela simplesmente aparece. E ela tem que passar por uma prova, o teste da ervilha, para provar que é uma princesa de verdade.
Minha primeira “ervilha” era descobrir sobre o que esta história falava. Um conto de fadas sempre trata do amadurecimento interno de um personagem, até que ele chega a autonomia (casa-se ou assume o reino). Este príncipe partiu, por escolha própria, em busca da princesa. E não encontrou. Andersen fala rapidamente sobre a busca, mas eu resolvi falar mais. E mostrei todos os encontros e desencontros que o príncipe teve com diversas princesas. Na vida real não é assim? Quantas expectativas são frustradas, como mudamos de opinião, como erramos e acertamos em busca do par amoroso...e quando pensamos que encontramos, às vezes o outro não nos quer. E aos trancos e barrancos vamos aprendendo o que já sabíamos: para gostar de alguém, precisamos primeiro gostar de nós mesmos! Ou, como diz o lacaio para o príncipe: “para achar a princesa de verdade, Sua Alteza precisa se tornar um príncipe de verdade”. Acho que esta é a grande lição dessa história. Mas cada um tem seu percurso, suas florestas e seus testes para enfrentar, até descobrir isso.
Quando o príncipe, já amadurecido, volta sem a princesa mas decidido a cuidar “dos seus afazeres de príncipe”, começa a segunda parte da história: a princesa de verdade aparece em meio à tempestade e tem que passar pelo teste da rainha. Leandro da Matta,, o diretor da peça, definiu bem esta personagem: a história não tem bruxa, não tem vilão, quem faz alguma “maldade” é a rainha, mas ela é mãe, ela é sogra! Acho esta rainha muito interessante: todo mundo se identifica com ela ou porque tem uma mãe assim, ou porque é assim como mãe. Difícil escapar de querer cuidar e acabar exagerando, né? Mas não é por mal, é por excesso de bem. Rimos e a perdoamos imediatamente.
Cada um que faça a interpretação que quiser ou que puder. Já disse Bartolomeu Campos Queiróz: “ A palavra é para abrir portas e não para pintar uma única paisagem.” Para mim, a história “A princesa e a ervilha” saiu leve, divertida, engraçada, foi boa de escrever. Mas, quando se escreve uma peça teatral, há a preocupação de como é que vai ficar isso no palco. Porque o teatro exige um tempo certo para as coisas acontecerem: se for muito rápido, as pessoas podem não entender, se for muito devagar, perde a graça.
No livro, a gente escreve tudo, pode ficar páginas e páginas descrevendo um lugar, seu cheiro, seus sons, dizer o que o personagem está sentindo, como ele está falando, que cara está fazendo...E ainda assim o leitor tem espaço de sobra para imaginar, interpretar do seu jeito, lembrar de outras coisas. Mas o texto teatral é diferente, a ação e o diálogo já trazem a força da emoção, já mostram se o cenário é importante ou não. Talvez o texto teatral por si só seja mais generoso, mais aberto a dar-se porque ele só se completa no palco.

Quando escrevi “O menino, o cachorro”, entendi que o texto é meu, mas o livro, livro mesmo, o objeto e tudo o que ele representa foi feito por várias pessoas. Isso me ensinou a ser mais humilde. Porque é como uma digital: o texto pode ser reeditado por outra editora, com outro formato, outras ilustrações, mas aquele livro é só ele, ele é único. E eu, por mais criativa que seja, nunca poderia ter pensado ou ilustrado o livro como a Massarani ilustrou, nunca ia pensar que o livro ficaria lindo assim quadrado, com aquele papel, com aquelas letras, com aquelas orelhas como a Sylvia e a Bia pensaram.



Então, quando dei a peça para o Carlos, eu já estava aberta e curiosa pra saber o que é que ele ia fazer com aquilo. Ele achou graça do nome, gostou que eu coloquei uma música (“A felicidade” - só a letra, porque a melodia nunca me atreveria), e leu o fim. O olhar dele, de riso, foi como se fizéssemos um pacto naquele instante, acho que é como um bando de crianças que se reúnem no quintal e dizem: vamos brincar de faz de conta? Dá um friozinho na barriga, dá excitação, dá medo, dá vontade de rir, dá vontade de falar, dá vontade de se mexer.
Carlos Fracho e eu

Passou um tempão. E um dia Carlinhos me liga dizendo que já estão ensaiando e que a estréia já estava marcada para o Teatro Municipal para dali a um mês. Foi muuuito legal! Eu assisti a um dos últimos ensaios. E a primeira coisa que senti foi um respeito enorme. Eu, por eles, porque sabia que cada um ia colocar sua marca pessoal, ia construir o pedaço que faltava e que eu nunca ia conseguir fazer sozinha. Eles, por mim, porque se preocuparam em ser fiéis às minhas ideias, queriam que eu ficasse satisfeita com a transformação de palavras em vida.


E a peça tem muita música, combina bem com a dinâmica que acontece lá. Marcos Assumpção musicou minha letra (quem diria, eu que sou uma negação musical até em caraoquê!) e fez mais 7 músicas. Lindas, lindas! Delicadas, e são daquelas que “pegam”: a gente acaba cantarolando sem perceber.
Bem, chegamos no dia da estréia. Como eu já sabia como a peça estava, minha atenção se voltou para o público. Como as pessoas iam receber tudo aquilo? Será que iam gostar? As crianças, as crianças, eu queria ouvir as crianças...a peça é para elas, e elas são sábias, elas poderiam me falar se tudo saiu bem.
No escurinho daquele teatro lindo, lotado, uma energia boa, como se todo mundo estivesse compartilhando da mesma brincadeira: eu também virei criança, bati palmas acompanhando as músicas, ri dos cacos, dos trejeitos dos atores, ri até das minhas próprias piadas, como se não fosse eu que tivesse escrito (boba, né?)
Enfim, a sensação de se ver um texto teatral que você escreveu pulsando lá no palco eu prefiro não descrever com palavras, mas com imagem. É assim:


mais da Princesa e a Ervilha




"A princesa a ervilha"


Expectativa...


Teatro Municipal de Niterói


Entrada do teatro Fachada