segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Continuando com Drummond

Cursei a Universidade em São Carlos, uma cidade ótima, porém longe de São Paulo. Então eu morava em República. Claro que tinha suas delícias, mas o comecinho mesmo, essa saída da casa dos pais, como foi dolorido. Sentia-me pequenininha. Como num internato. E lá estava Drummond, pra me dizer: “olha, eu também me sinto assim. Estou detestando tudo. Mas vamos falar baixinho que o padre pode escutar”:

Terceiro dia

Drummond

Mamãe, quero voltar
imediatamente.
Diz a Papai que venha me buscar.
Não fico aqui, Mamãe, é impossível.
(...)
Ai Mamãe, minha Mãe, o travesseiro
eu ensopei de lágrimas ardentes
e se durmo é um sonhar de estar em casa
que a sineta corta ao meio feito pão.
(...)
Mamãe, o dia passou, mas tão comprido
que não acaba nunca de passar.
Um ano à minha frente? Não agüento.
Mas farei o impossível. Me abençoe.
E faz um frio... A caneta está gelada.
Não te mando esta carta
que um padre leria certamente
e me põe de castigo uma semana
(e nem tenho coragem de escrever).
Esta carta é só pensada.

Um comentário:

Tino Freitas disse...

Querida Simone, não tenho seu email, por isso escrevo aqui. Que delícia saber que você acompanha os "Roedores". Dê notícias sempre que tiver alguma coisa brotando. Por aqui, eu estou como talvez você tenha ficado há alguns meses: ansioso, esperando o primeiro filho de papel. Mas ele chegará até maio próximo. No mais, sucesso com a "Esquina...". Pensamos em algo "parecido", com oficinas de literatura para as crianças por aqui. Um forte abraço de letrinhas para ti e para os seus.