domingo, 6 de junho de 2010

O conto é curtinho, algumas fontes dizem que Andersen recolheu esta história do folclore da Suécia. Não é uma das histórias mais conhecidas, e ela é diferente, segue uma linha narrativa que não é comum, o príncipe não luta pelo amor da princesa, ela simplesmente aparece. E ela tem que passar por uma prova, o teste da ervilha, para provar que é uma princesa de verdade.
Minha primeira “ervilha” era descobrir sobre o que esta história falava. Um conto de fadas sempre trata do amadurecimento interno de um personagem, até que ele chega a autonomia (casa-se ou assume o reino). Este príncipe partiu, por escolha própria, em busca da princesa. E não encontrou. Andersen fala rapidamente sobre a busca, mas eu resolvi falar mais. E mostrei todos os encontros e desencontros que o príncipe teve com diversas princesas. Na vida real não é assim? Quantas expectativas são frustradas, como mudamos de opinião, como erramos e acertamos em busca do par amoroso...e quando pensamos que encontramos, às vezes o outro não nos quer. E aos trancos e barrancos vamos aprendendo o que já sabíamos: para gostar de alguém, precisamos primeiro gostar de nós mesmos! Ou, como diz o lacaio para o príncipe: “para achar a princesa de verdade, Sua Alteza precisa se tornar um príncipe de verdade”. Acho que esta é a grande lição dessa história. Mas cada um tem seu percurso, suas florestas e seus testes para enfrentar, até descobrir isso.
Quando o príncipe, já amadurecido, volta sem a princesa mas decidido a cuidar “dos seus afazeres de príncipe”, começa a segunda parte da história: a princesa de verdade aparece em meio à tempestade e tem que passar pelo teste da rainha. Leandro da Matta,, o diretor da peça, definiu bem esta personagem: a história não tem bruxa, não tem vilão, quem faz alguma “maldade” é a rainha, mas ela é mãe, ela é sogra! Acho esta rainha muito interessante: todo mundo se identifica com ela ou porque tem uma mãe assim, ou porque é assim como mãe. Difícil escapar de querer cuidar e acabar exagerando, né? Mas não é por mal, é por excesso de bem. Rimos e a perdoamos imediatamente.
Cada um que faça a interpretação que quiser ou que puder. Já disse Bartolomeu Campos Queiróz: “ A palavra é para abrir portas e não para pintar uma única paisagem.” Para mim, a história “A princesa e a ervilha” saiu leve, divertida, engraçada, foi boa de escrever. Mas, quando se escreve uma peça teatral, há a preocupação de como é que vai ficar isso no palco. Porque o teatro exige um tempo certo para as coisas acontecerem: se for muito rápido, as pessoas podem não entender, se for muito devagar, perde a graça.
No livro, a gente escreve tudo, pode ficar páginas e páginas descrevendo um lugar, seu cheiro, seus sons, dizer o que o personagem está sentindo, como ele está falando, que cara está fazendo...E ainda assim o leitor tem espaço de sobra para imaginar, interpretar do seu jeito, lembrar de outras coisas. Mas o texto teatral é diferente, a ação e o diálogo já trazem a força da emoção, já mostram se o cenário é importante ou não. Talvez o texto teatral por si só seja mais generoso, mais aberto a dar-se porque ele só se completa no palco.

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